Polícia


Região de Camaquã na rota do contrabando de cigarro

Reportagem exibida no Fantástico deste domingo (2) mostrou a ligação das fábricas clandestinas no centro do estado com o roubo de cargas de fumo que saem de Camaquã, Chuvisca e Dom Feliciano
03/06/2019 Clic Camaquã

A montagem do cigarro pirata paraguaio em território gaúcho, revelada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) nesta segunda-feira (3), tem uma faceta dramática, a dos roubos contra produtores rurais.

Na reportagem exibida pelo Fantástico neste domingo (2), foi mostrada uma fábrica clandestina dos cigarros Bill e Blitz que estava localizada em Montenegro, no centro do estado. Estes cigarros são amplamente comercializados na nossa região e se sabe agora que parte do fumo utilizado para a confecção destes cigarros é proveniente de furto de cargas de fumo, caso recorrente na região de Camaquã.

Em busca de matéria-prima barata, as facções criminosas gaúchas compram fumo de distribuidoras desonestas - mas não hesitam, também, em encomendar assaltos de caminhões que transportam fumo.

Um dos entrevistados pelo GDI foi o produtor rural de Chuvisca, Márcio Jalkutski. Confira o seu depoimento:

"Nós levávamos três caminhões carregados de fumo para Venâncio Aires, umas quatro horas de viagem. Nas proximidades de Vale Verde os pneus de um dos veículos furaram, acho que eram miguelitos colocados na estrada. Mal a gente parou e uma caminhonete estacionou atrás. Três caras armados desceram e mandaram a gente sair dos caminhões.

Fomos levados na caminhonete e num dos caminhões, com cabeça abaixada, proibidos de olhar para a frente. Rodamos por quatro horas, em estradas de chão, até nos obrigarem a descer num matagal. Aí nos amarraram e começaram a descarregar o fumo dos veículos. Levaram umas 15 toneladas de fumo, o equivalente a R$ 200 mil em mercadoria, além do caminhão. Nos avisaram que o veículo seria abandonado e assim aconteceu. Nos desamarramos e tocamos a vida.

Os outros dois caminhões não chegaram a ser roubados porque um taxista estranhou o abandono e chamou a BM, que recuperou os veículos. Nossa empresa já sofreu outro roubo em 2016. E na nossa região foram 10 assaltos em 2016."

Desde 2012, foram descobertas pelas polícias Civil e Federal pelo menos 15 fábricas deste tipo no Brasil. No Rio Grande do Sul, 4 fábricas clandestinas foram encontradas, sendo a última em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, em dezembro de 2018.

Fábricas clandestinas encontradas no RS: 

Candelária, em 2012

Cerro Grande do Sul, em 2015

Cachoeira do Sul, em 2017

Montenegro, em 2018

Como age a indústria de cigarros piratas no RS

Criminosos radicados no Paraguai, cansados dos riscos do contrabando, têm optado por estratégia engenhosa. Eles enviam empregados e técnicos de confiança para o Brasil e montam fábricas de cigarro clandestinas, abastecidas com fumo brasileiro e tocadas por trabalhadores paraguaios, em regime análogo ao de escravos.

É o que comprovou o Grupo de Investigação da RBS (GDI), em três meses de apuração. Repórteres se passaram por interessados em montar indústrias fumageiras de marcas paraguaias (as tabacaleras), as mais baratas e consumidas em território brasileiro. As negociações, não concluídas na prática, foram gravadas e mostram que os criminosos decidiram eliminar a etapa mais perigosa do empreendimento, a passagem do produto proibido pela fronteira. Continua sendo um delito porque não pagam imposto, falsificam marcas e mantêm cativos os empregados. O material foi veiculado no Fantástico, apresentado pela RBS TV na noite deste domingo (2).

O cigarro clandestino do Paraguai traz prejuízos ao Brasil há tempos. Em 2017, o país amargou R$ 4,5 bilhões de evasão tributária somente com a venda de marcas contrabandeadas.

A grande novidade é um aperfeiçoamento: em vez de contrabandear, montam o negócio ilegal em território brasileiro. Entre 2012 e 2018, 15 indústrias de cigarros com marcas paraguaias foram descobertas pelas polícias Civil e Federal no país – sendo quatro no Rio Grande do Sul.

A mais recente ocorreu por acaso, em Montenegro, em dezembro, e que deu início à investigação do GDI. Policiais civis liderados pelo delegado Paulo Costa foram verificar se havia carros roubados em uma fazenda em meio a um bosque de acácia. Em busca autorizada pela Justiça, os agentes depararam com 13 paraguaios acampados em um galpão. Eles trabalhavam numa indústria clandestina de cigarro, em longas jornadas, comendo e dormindo no chão. O delegado considera que faziam trabalho análogo ao de escravos, porque tinham a liberdade restringida. 

A Receita Federal retirou cinco carretas de cigarros e máquinas do local, além de veículos. A ação resultou em prejuízo para a quadrilha de R$ 50 milhões, calcula Costa. A fábrica clandestina produzia 1,2 mil cigarros por minuto, cerca de 2,6 milhões de maços de cigarro ao mês – 10% do que produz uma das mais modernas fábricas da Souza Cruz, em Uberlândia (MG). Ao preço de R$ 3 por maço, a estimativa é de que no mês de funcionamento gerou R$ 7,8 milhões, de forma ilegal, aos criminosos. 

Foi a partir de uma caderneta apreendida pela polícia na fábrica que o GDI conseguiu montar parte do quebra-cabeças da indústria pirata do cigarro. Os repórteres entraram em contato com vendedores de fumo, intermediários, fabricantes e contrabandistas. Nenhum deles sabia que falava com jornalistas. 

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