Política


Assembleia emprega ao menos 15 ex-deputados estaduais por indicação política

Com salários brutos que vão de R$ 7,7 mil a R$ 31,9 mil, cargos são alternativa a quem ficou sem mandato eletivo
25/06/2019 GaúchaZH

Ex-deputado Sossella (PDT), barrado pela Lei da Ficha Limpa, atualmente é assessor do deputado Gerson Burmann (PDT)

Entre gabinetes parlamentares, coordenadorias de bancadas, lideranças de partido e departamentos administrativos, ao menos 15 ex-deputados estaduais estão empregados na Assembleia Legislativa em espaços de indicação política, com salários brutos que vão de R$ 7,7 mil a R$ 31,9 mil. A maior parte dos casos é de ex-deputados que não conseguiram se reeleger e, sem mandato, foram acolhidos entre os 1,1 mil cargos em comissão (CCs) do Legislativo.

Adilson Troca (PSDB), Altemir Tortelli (PT), Bombeiro Bianchini (PL), Gilmar Sossella (PDT), Pedro Ruas (PSOL), Stela Farias (PT) e Tarcisio Zimmermann (PT) foram deputados até o início deste ano. Com o fim da legislatura, os sete passaram da tribuna aos bastidores. A eles, somam-se outros oito ex-deputados que assumiram o posto em legislaturas anteriores: Achylles Braghirolli (MDB), Carlinhos Vargas (PTB), Janir Branco (MDB), João Scopel (PTB), José Gomes (PT), Marcos Daneluz (PT), Paulo Borges (sem partido) e Sandro Boka (MDB).

Dos 15, o único que não é pago pela Assembleia é Gilmar Sossella (PDT). Quem adentrar desavisado no gabinete do atual deputado Gerson Burmann (PDT), no 11º andar, se surpreenderá ao ver Sossella atendendo aliados políticos. O ex-deputado concorreu nas últimas eleições, mas, condenado por crime de concussão, acabou barrado pela Lei da Ficha Limpa e ficou sem mandato no início do ano. Assim, Sossella retomaria a atividade de funcionário do Banco do Brasil, mas, graças à indicação política, conseguiu permanecer na Assembleia, cedido.

— Voltei à Assembleia por benevolência do deputado Gerson Burmann (PDT), que é líder do partido e solicitou a minha cedência do Banco do Brasil. Estou fazendo esse trabalho de atender prefeitos e vereadores. Lógico, sem mandato, mas digo que quero retribuir as pessoas. Graças a Deus, sempre gostei da política. Como a população gaúcha me deu votação para estar aqui, eu só não estou de direito, mas de fato fui eleito — argumenta Sossella.

No gabinete do líder do MDB, Fábio Branco (MDB), há outros dois ex-deputados empregados, conforme os dados obtidos por GaúchaZH via Lei de Acesso à Informação (LAI). Primo de Fábio Branco, o ex-deputado Janir Branco (MDB) exerce o cargo de "chefe de gabinete de líder". Não há impedimento legal à contratação de primos. Já o ex-deputado Sandro Boka (MDB) exerce o cargo de “chefe de gabinete” do deputado.

— O Janir é uma pessoa muito experiente, tem excelente relação com os deputados. Agora, a relação de primo é uma casualidade. Nós trabalhamos juntos e eu me sinto mais capacitado para exercer a função de deputado estando bem assessorado — conta Fábio Branco (MDB).

Ao menos três dos ex-deputados que são CCs têm salários brutos maiores do que os vencimentos dos atuais deputados. Carlinhos Vargas (PTB) tem contracheque bruto de R$ 31,9 mil, enquanto Scopel (PTB) e Braghirolli (MDB), de R$ 26,4 mil. Já os atuais deputados têm salário bruto de R$ 25,3 mil. Não há restrição legal em assessores receberem salário líquido ou bruto maior que o de parlamentares (desde que respeitado o teto remuneratório que, na Assembleia, é de R$ 35,4 mil para a maioria dos servidores).

Achylles Braghirolli (MDB), conforme os dados obtidos via LAI, está lotado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas atua como assessor no gabinete do deputado Edson Brum (MDB). Aos 82 anos, Vô Braghi, como é carinhosamente chamado por colegas, argumenta que é melhor ser assessor do que deputado:

— O mais importante é, quando perderes o tal de poder, ter consciência de que passou, a vida segue e tem que sobreviver. O salário de assessor é mais alto e não tens compromissos. O deputado é quatro anos gastando. Ser funcionário é bem mais tranquilo — conta, por telefone, enquanto se desloca para agenda política no litoral.

A função de assessoramento exige habilidade política, confiança extrema do assessorado e conhecimento de demandas específicas de setores sociais representados pelo deputado. Da direita à esquerda, passando por partidos de centro, o assessoramento é parte da formação política de correligionários e uma porta de entrada para quem deseja disputar eleições. Também é uma alternativa de remuneração quando o insucesso eleitoral bate à porta.


Enquanto assessor, ex-deputado Troca (PSDB) auxilia na articulação política e se debruça sobre contas públicas.

Referência no PSDB gaúcho, Adilson Troca não conseguiu se reeleger em 2018, após 18 anos de Assembleia. Ao deixar o cargo, foi prontamente absorvido como assessor da bancada tucana, no cargo de "chefe de gabinete de líder", com a missão de passar adiante sua experiência aos tucanos de primeiro mandato e manter-se como ponto de contato para articulações políticas.

— É melhor ser deputado porque tem estrutura, tem poder de ajudar. Mas é honroso (ser assessor). Estamos em um momento de renovação — avalia Troca, contador de formação, a quem os atuais parlamentares tucanos pedem ajuda quando o assunto é finanças públicas.

No 6º andar da Assembleia, o ex-deputado Pedro Ruas (PSOL) ocupa uma pequena sala retangular. Ruas teve resultado eleitoral expressivo, conseguiu mais votos do que 44 dos 55 deputados eleitos, mas não o suficiente para conquistar o cargo, devido ao quociente eleitoral. Sem mandato, foi convidado em 2019 para o posto de "coordenador-geral da bancada" do PSOL, que é formada apenas pela deputada Luciana Genro.

Agora assessor, ex-deputado Ruas (PSOL) conta que a sua atuação como militante não depende de mandato

— O mandato é um grande instrumento, mas não é imprescindível. Um militante deve saber trabalhar sem o mandato. Quando eu me elegi deputado em 2014, convidei a Luciana para ser coordenadora. Quando ela se elegeu em 2018, me convidou para o mesmo cargo — conta Ruas, destacando que, além do trabalho diário no gabinete, usa as noites para a "militância" e para cuidar de seu escritório de advocacia.

Na sala ao lado, o ex-deputado Bombeiro Bianchini (PL) despacha detrás de uma escrivaninha, em uma ampla sala com demais assessores. Envolvido nos últimos dias com a produção de um relatório sobre barragens, Bianchini não sente saudades da função de deputado e espera a disputa eleitoral de 2020, quando deve disputar a prefeitura de Santiago, no Centro do Estado:

— Agora sou mais feliz. Como deputado foram quatro anos de tormento. Não dormia de noite, preocupado. Agora saiu dos ombros aquela responsabilidade que é muito grande. Como deputado, tem que ter cuidado com tudo, com a imagem, como se portava. Agora vou no "bolicho" e não tenho preocupação — brinca.

Na Assembleia, a bancada do PT é a que mais tem ex-deputados como assessores. São cinco. Entre eles, está Tarcisio Zimmermann, que da função de assessor chegou a deputado federal, depois voltou ao Rio Grande do Sul como deputado estadual e, no início de 2019, voltou ao cargo de assessor.

— A minha vida profissional foi, durante muito tempo, uma vida de assessor. Seguido eu brincava com os colegas que eu era muito melhor assessor que deputado. Eu já tive meu tempo de deputado. Na política as coisas têm um tempo e é preciso dar lugar aos outros — finaliza Zimmermann.

Entre os 15 ex-deputados assessores, o que menos tempo ficou no posto foi Carlinhos Vargas (PTB). Suplente, ele assumiu o cargo de deputado estadual por apenas um mês, em 2011. Para os registros oficiais do Memorial da Assembleia, ele é considerado ex-deputado estadual como os demais.




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