Agricultura


Como o aquecimento global vai espalhar uma 'praga bíblica'

Em 27 de julho, imagens de uma "invasão" de insetos em Las Vegas percorreram o mundo.
10/08/2019 G1

Eles foram atraídos principalmente pelas luzes ofuscantes da cidade e, apesar do susto, causaram mais incômodo do que estragos.

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Ao mesmo tempo, uma nuvem de insetos no Iêmen, um país devastado pela fome e pela guerra civil, chamou muito menos atenção, mas foi mais preocupante.

Eles eram gafanhotos, cujo apetite pode causar danos consideráveis ​​às plantações em mais de 60 países - principalmente na África, no Oriente Médio e na Ásia Central.

Esses eventos podem se tornar uma ocorrência mais frequente - os especialistas temem que a mudança climática faça os insetos agirem de maneira mais destrutiva e imprevisível.

Enxame com fome

Já existem evidências de que o aumento da temperatura terá um efeito direto sobre o metabolismo dos insetos.

Um estudo de 2018 publicado por cientistas americanos na revista Science mostrou que o clima mais quente os torna mais ativos e mais propensos a se reproduzir.

Isso também torna as criaturas geralmente mais famintas. Um gafanhoto adulto do deserto é capaz de comer o equivalente a seu próprio peso corporal em um dia.

Monitoramento

Os pesquisadores estimaram que os danos globais causados ​​por pragas de insetos a trigo, arroz e milho podem aumentar de 10% a 25% por grau Celsius de aquecimento.

O impacto desse dano pode ocorrer em regiões de clima temperado, onde a maioria dos grãos é produzida.

"Com exceção dos trópicos, temperaturas mais altas aumentam as taxas reprodutivas de insetos. Você tem mais insetos e eles comem mais", escreveu Curtis Deutsch, um dos autores do estudo de 2018.

Embora os gafanhotos não sejam a única espécie a devorar culturas, eles são os mais monitorados por autoridades nacionais e internacionais, graças ao seu potencial destrutivo.

Os esforços nas últimas quatro décadas os mantiveram afastados, mas tem havido surtos graves, como a infestação africana em 2004, que causou danos estimados de US$ 2,5 bilhões para as lavouras.

Uma invasão de gafanhotos destruiu milhares de hectares no sudoeste da Rússia e obrigou o Ministério da Agricultura do país a declarar estado de emergência na região de Stavropol — Foto: BBC Uma invasão de gafanhotos destruiu milhares de hectares no sudoeste da Rússia e obrigou o Ministério da Agricultura do país a declarar estado de emergência na região de Stavropol — Foto: BBC

Uma invasão de gafanhotos destruiu milhares de hectares no sudoeste da Rússia e obrigou o Ministério da Agricultura do país a declarar estado de emergência na região de Stavropol — Foto: BBC

Segurança alimentar

Embora seja estimado que a proporção global de todos os danos causados ​​por gafanhotos em cultivos seja relativamente pequena em relação a outros insetos - os acadêmicos a estimam em apenas 0,2% - o efeito do enxame em uma determinada localidade pode ser devastador.

"Condições mais secas no futuro nos limites norte e sul da área de distribuição de gafanhotos do deserto podem produzir habitats mais favoráveis ​​para esta espécie e podem ter impactos negativos importantes", diz o entomologista Michel Lecoq, um dos maiores especialistas em gafanhotos do mundo.

"Os riscos em termos de danos às culturas, pastagens e, em última instância, à segurança alimentar e social de muitas pessoas pobres nos países em desenvolvimento podem ser enormes", adverte Le Coq.

História destrutiva

Pragas do tipo mais devastador, os gafanhotos do deserto, têm o potencial de prejudicar a subsistência de 10% da população mundial, segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.

Um enxame "pequeno" come a mesma quantidade de comida em um dia que cerca de 35 mil pessoas.

Seus "petiscos" favoritos incluem grãos básicos como arroz, milho e trigo.

Essas criaturas são alguns dos inimigos mais antigos da humanidade - eles até apareceram na Bíblia e no Alcorão.

No mundo antigo, o historiador romano Plínio, o Velho, escreveu que 800 mil pessoas haviam morrido na região que atualmente engloba Líbia, Argélia e Tunísia devido à fome causada por uma praga de gafanhotos.

Mais recentemente, em 1958, na Etiópia, um enxame de gafanhotos que cobriu mais de mil quilômetros quadrados destruiu 167 mil toneladas de grãos - o suficiente para alimentar um milhão de pessoas por um ano.

As regiões temperadas serão mais afetadas pelos insetos com mais fome porque seu metabolismo diminui se ficar muito quente, o que já é o caso em áreas tropicais.

Em 2016, especialistas suspeitam que tenha havido influência do aquecimento global quando a Argentina enfrentou sua maior infestação de gafanhotos em 60 anos.

Acredita-se que um inverno mais quente e mais úmido desencadeou o fenômeno.

Voos mais altos e mais longos

A FAO, que coordena uma rede de monitoramento global especificamente para atividades de gafanhotos no deserto, também alerta que as mudanças climáticas podem resultar em condições mais favoráveis ​​para a migração e a distância percorrida - os gafanhotos adultos do deserto podem voar até 150 quilômetros em um único dia.

"Sob o aquecimento futuro, os enxames poderiam alcançar áreas mais rapidamente do que no passado", diz a agência.

Temperaturas mais altas também podem permitir que os insetos voem mais alto e ultrapassem barreiras naturais como montanhas, abrindo novas rotas de migração, especialmente se os padrões de vento mudarem conforme os gafanhotos são transportados.

"Em geral, espera-se que surtos de gafanhotos se tornem mais frequentes e severos sob a mudança climática", diz Arianne Cease, diretora da Global Locust Initiative na Arizona State University, nos Estados Unidos.

As regiões agrícolas de subsistência são as mais vulneráveis ​​à devastação causada por enxames de gafanhotos.

Mas não apenas as safras produtoras de alimentos estão em risco: no Paquistão, as autoridades têm lidado com uma infestação que ameaça as plantações de algodão, um produto responsável por quase metade das exportações do país.

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