"Iluminado", Guerrero estreia com gol pelo Inter e vive dia com homenagens, alívio e emoção
São quatro segundos entre a cobrança de escanteio de Camilo e o cabeceio de Paolo Guerrero para as redes. Depois, a corrida até sumir entre os companheiros, o Saci, mascote do Inter, e receber o carinho dos torcedores dura mais que o dobro. Esta trajetória colocou fim ao drama vivido pelo peruano na suspensão. Era estreia pelo clube gaúcho e a volta emotiva do peruano aos gramados. No aniversário dos 50 anos do Beira-Rio, na mesma forma do primeiro gol do estádio, marcado por Claudiomiro e do primeiro de Fernandão, o gol 1 mil em clássicos, também na primeira partida.
Aliás, sobrou emoção para o artilheiro da noite. O gol teve homenagem para o sobrinho falecido, assim como uma referência a namorada, presente nos camarotes do Beira-Rio. Ou seja, uma tarde completa para o "guerreiro".
- Eu procurava o gol desde o primeiro minuto. Queria fazer o gol na estreia e consegui. Não sei (se entra para a história do Beira-Rio), mas consegui o que queria. Meus companheiros me ajudaram muito e fiz - disse o peruano.
Não faltou simbolismo à estreia do centroavante pelo Inter na chuvosa tarde do último sábado durante a vitória por 2 a 0 sobre o Caxias pela semifinal do Gauchão. Exatos 251 dias sem atuar, Guerrero vestiu a camisa 9 e mostrou que, apesar do longo tempo inativo, segue com o faro de gols apurado.
Gol no aquecimento
Aliás, ainda no aquecimento, já tinha dado uma palinha do que estava por vir. Marcou um gol ao encobrir Daniel. O lance já serviu para animar os torcedores, que comemoraram como se valesse. Refletia a expectativa em torno de seu nome.
Minutos depois, a bola rolou. E, aos 36, o êxtase. Em sua segunda oportunidade na partida (a primeira foi tirada em cima da linha por Eduardo Diniz quatro minutos antes), não perdoou. Após 284 dias, fazia as pazes com o gol (o último ocorrera na vitória do Peru por 2 a 0 sobre a Austrália na Copa do Mundo de 2018).
Numa tarde cheia de simbolismos em que respingava sentimentalidade, o coração pesou para Guerrero. Assim que fez o gol, deu “tiros imaginários para os céus”. E colocou a mão sobre as sobrancelhas para procurar uma paixão antiga. Nas arquibancadas, estava a modelo peruana Alondra Garcia Miró na torcida.
Guerrero estava aliviado pelo drama em função da punição por doping (foi encontrado em seu teste metabólitos de cocaína no jogo com a Argentina pelas Eliminatórias) encerrar. Foi um recomeço para o peruano.
- A sensação que eu tive injustamente por um ano e dois meses (de punição). Me prejudicou muito, mas não quero mais pensar nisso. Quero focar na minha carreira, jogar futebol, voltar a viver isso aqui. Estar no vestiário com meus companheiros, rir e dar alegrias ao torcedor. Estava com muitas saudades. Só quero focar nisso. Hoje tenho a possibilidade de ser profissional. Sou abençoado, feliz jogando futebol e só quero isso. Estou feliz por estar aqui novamente por ganhar hoje. Só quero treinar bem, jogar e me sentir em casa - disse.
Homenagem ao sobrinho falecido
A alegria do sábado contrastava com outro obstáculo enfrentado por Guerrero recentemente. Há menos de um mês, a vida resolveu pregar mais uma peça. O sobrinho Julio Andrés Rivera Quispe, de 28 anos, morreu vítima de um atropelamento no Peru. Foi para ele que pensou e dedicou enquanto olhou ao céu na corrida para vibrar pelo gol. Além, claro, dos colorados.
- Eu primeiro agradeci a Deus. O gol é dedicado ao meu sobrinho, que infelizmente não está aqui. Ele está no céu. E (também) ao torcedor colorado por ter esperado muito tempo pela minha estreia, que viveu toda esta ansiedade. Fui contratado há muito tempo, mas não podia estrear. Passaram muitas coisas. Só pude agradecer - revelou.
