Política


10 momentos do primeiro ano de Eduardo Leite no governo do RS

Governador consolidou base aliada na Assembleia, mas ainda assim não conseguiu aprovar todos os projetos que pretendia
24/12/2019 GaúchaZH

Temendo nova disputa jurídica que retardaria a apreciação do pacote do funcionalismo, o governador Eduardo Leite telefonou, de seu gabinete na ala residencial do Palácio Piratini, para o líder do governo na Assembleia, Frederico Antunes (PP), na tarde do dia 18.

— Toca ficha, estamos bem calçados pela decisão do Supremo — orientou Leite.

Após reversão da liminar que barrou a votação da proposta de alterar as alíquotas previdenciárias de servidores civis, a oposição tentava barrar o andamento da sessão, acusando o governo de induzir o Supremo Tribunal Federal (STF) a erro. Antunes repassou o sinal verde aos aliados, e a estratégia dos adversários minguou. Pouco antes das 22h, Leite assistiu pela TV à primeira vitória do pacote pelo largo placar de 38 a 15 votos.

Às vésperas do fim de 2019, o governador recém colheu o êxito mais significativo de seu primeiro ano de mandato. Lançado em outubro, o pacote que altera mais de cem itens na carreira e na aposentadoria do funcionalismo foi a principal preocupação de Leite no último trimestre e a pauta prioritária nas dependências do Palácio Piratini.

Embora tenha largado com sucesso, o governador foi pressionado por aliados e precisou adiar a análise de sete das oito medidas para 2020. Pelo cálculo inicial do governo, os projetos representam economia de R$ 25,4 bilhões em uma década.

Trata-se de uma das medidas apresentadas por Leite para equacionar despesas e receitas e cumprir sua promessa de colocar o salário dos servidores em dia, repetida durante a campanha eleitoral em 2018. 

— Achava que, pelo tamanho do ajuste necessário, era muito difícil colocar a folha em dia em um ano. Foi uma meta que ele se impôs, baseada na convicção de que algumas coisas iam acontecer. Mas não dependia só dele e acabou não acontecendo — avalia Aod Cunha, secretário da Fazenda no início do governo Yeda Crusius (PSDB) e um dos principais conselheiros de Leite.

Mesmo com a agenda reformista, o governador irá se despedir de 2019 com déficit projetado de R$ 4,43 bilhões nas contas do Estado. Enquanto isso, o desgaste com o funcionalismo e os salários atrasados seguem sendo o principal sintoma da crise.

— Leite teve como principal bandeira a retomada do pagamento sem atraso e integral dos servidores, mas não foi capaz de cumprir e ainda investiu a maior parte de seus esforços na tentativa de aprovar projetos de reformas estruturais que impactam justamente os servidores — analisa Paulo Peres, professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS.

A empreitada de Leite encarar a crise começou antes mesmo de assinar do termo de posse. Em 18 de dezembro de 2018, conseguiu o aval do parlamento para manter por mais dois anos o tarifaço no ICMS, contando até mesmo com o apoio da oposição. 

O governador formou base robusta na Assembleia e, sem maiores dificuldades, aprovou proposta de emenda constitucional que pôs fim à exigência de plebiscito para venda de CEEE, Sulgás e Companhia Riograndense de Mineração, e recebeu autorização para venda. Também teve aval para congelar o orçamento de todos os poderes, aprofundando o embate com Judiciário e Ministério Público. Em 2019, retomou as tratativas para aderir ao regime de recuperação fiscal. 

Para 2020, o governador espera assinar o acordo com o governo federal, aprovar o restante do pacote do funcionalismo, gerar receitas extraordinárias para restabelecer as alíquotas de ICMS e, enfim, pagar os salários em dia.

— O governo conseguiu o que mais queria, a reforma da previdência que traz caixa imediato para o Estado. Agora, irá enfrentar maior dificuldade porque são propostas mais polêmicas que mexem com a vida imediata das pessoas e sua perspectiva de carreira — projeta a deputada Luciana Genro (PSOL), umas das principais críticas ao governo no parlamento.

Avanços e dificuldades pelo caminho

Manutenção do ICMS

Duas semanas antes de assinar o termo de posse, Leite colheu sua primeira vitória. Por 40 votos a 10, os deputados aprovaram a manutenção por mais dois anos do tarifaço nas alíquotas do ICMS. O governador tinha a proposta como prioritária para o reequilíbrio das contas públicas. Defendida durante a campanha, a medida recebeu apoio inclusive da oposição, fruto do diálogo de Leite com as bancadas.

Privatização de estatais

Leite encaminhou à Assembleia, em fevereiro, uma proposta de emenda constitucional (PEC) para retirar a necessidade de plebiscito para privatizar estatais. Em julho, os parlamentares deram aval para a venda das empresas com placar amplo: 40 votos a 14 nos projetos da CEEE e da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e 39 a 14 no da Sulgás. A venda era considerada uma etapa fundamental para aderir ao regime de recuperação fiscal.

Regime de Recuperação Fiscal (RRF)

Principal alternativa para sair da calamidade financeira das contas públicas, o RRF avançou, mas ainda não foi assinado. A adesão começou a ser negociada pelo ex-governador José Ivo Sartori com a Secretaria do Tesouro Nacional em 2017. O Piratini, contudo, esbarra na dificuldade de comprovar o comprometimento superior a 70% da receita com a folha de pessoal e na resistência de vender o Banrisul. Os benefícios incluem carência no pagamento da dívida por três anos e autorização para novos financiamentos.

Novo código ambiental

Em dezembro, o governo colheu a aprovação do novo código ambiental, por 37 votos a 11. Defendida por Leite como uma maneira de melhorar o ambiente de negócios, a medida alterou quase 500 regras. Polêmico, o texto enviado à Assembleia previa o autolicenciamento facilitado para empreendimentos com alto risco ambiental, mas uma emenda alterou o trecho. A proposta é criticada por entidades que atuam em defesa do meio ambiente e elogiada pelo setor produtivo.

Venda de ações do Banrisul

Iniciativa considerada crucial para colocar a folha do funcionalismo em dia, a venda de ações do Banrisul fracassou. Depois de idas e vindas, o governo desistiu de ofertá-las em setembro em razão do preço baixo. O Piratini tinha intenção de obter R$ 2,2 bilhões no processo, considerando R$ 23 por ação. Um dia antes de cancelar a operação, o banco havia conseguido garantir preço mínimo de R$ 18,50, indicando receita menor do que a esperada.

Parcelamento dos salários

Durante a campanha, Leite sustentou ser possível colocar fim ao parcelamento dos salários do funcionalismo no primeiro ano de governo “organizando o fluxo de caixa”. A promessa não foi cumprida devido ao fracasso na venda das ações do Banrisul, única fonte de recursos extraordinários no horizonte. Aliados afirmam que o governador se precipitou ao afiançar o pagamento em dia, mas Leite reitera que irá alcançá-lo em 2020.

Queda nos indicadores de criminalidade

À exceção do feminicídio, todos os indicadores de criminalidade diminuíram neste ano no Rio Grande do Sul. Em setembro, por exemplo, o Estado teve o menor número de homicídios para o mês desde 2009. Também caíram os roubos de veículos e os latrocínios. O Piratini atribui a queda ao programa RS Seguro, lançado em fevereiro, que foca investimento, inteligência e integração nas 18 cidades que concentram a maior parte dos crimes.

Lei orçamentária

O governador conseguiu aprovar leis orçamentárias que preveem o congelamento total nos orçamentos de todos os poderes no próximo ano. Para Leite, a medida inédita “chamou todos os poderes à solidariedade diante da crise”. Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado manifestaram contrariedade. Na última semana, uma liminar foi concedida a pedido do Ministério Público suspendendo  o congelamento.

Pacote do funcionalismo

Leite encaminhou à Assembleia, em novembro, o mais amplo pacote de reforma na carreira e na aposentadoria dos servidores. Gestadas ao longo de 10 meses, as medidas alteram mais de cem regras do funcionalismo. Entre elas, mudanças nas alíquotas da previdência e fim de adicionais por tempo de serviço e incorporações. Em razão das propostas, o Piratini tem enfrentado paralisações de categorias e resistência da base aliada, se vendo obrigado a fazer concessões nos projetos.

Greve do magistério

Em protesto contra o pacote, o magistério deu início a uma greve em 18 de novembro. Depois de uma década de manifestações restritas, a paralisação uniu a categoria e atingiu escolas que nunca haviam parado. Para os professores, a principal resistência é ao plano de carreira. Diante da falta de apoio de aliados, Leite apresentou mudanças, incluindo aumento nos subsídios, maior intervalo entre os níveis de remuneração e reajuste salarial de 19,8% em três anos.

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