Geral


Clubes do interior do Brasil sofrem para manter as portas abertas

O cenário parece cada vez mais complicado e triste, pelo tamanho e diversidade do país
08/02/2020 GaúchaZH - Diogo Olivier

Por algum motivo inexplicável para um personagem tão relevante na história do futebol gaúcho, escrevi Hélio Luz em vez de Hélio Vieira como novo técnico do Aimoré, no lugar do demitido PC de Oliveira. Foi esta semana, na coluna. O Diego Araujo, editor-chefe do Diário Gaúcho, gentilmente concedeu a possibilidade de que eu teria confundido o treinador com o ex-chefe da Polícia do Rio de Janeiro, Hélio Luz. Será? Não sei. Nunca entrevistei ou falei sobre Luz, enquanto já tratei dezenas de vezes do Vieira.

Enfim. Um equívoco que me dá a chance de lembrar daquele time do Brasil-Pel que, em 1985, com Hélio Vieira na zaga, aplicou 2 a 0 no seguinte Flamengo, já campeão do mundo e, na década de 1980, famoso por goleadas tipo um 7 a 0 no Madureira: Fillol; Leandro, Mozer, Adalberto e Aílton Ferraz; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Bebeto e Chiquinho. A façanha colocou o Xavante na semifinal do Brasileirão.

O Brasil só não foi à final daquele campeonato por obra — manobra, na verdade — da CBF, que cedeu às pressões do bicheiro Castor de Andrade, mecenas do Bangu, e tirou de Pelotas o primeiro jogo do mata-mata, levando-o para o velho Olímpico. Um crime. Se o grande Flamengo de Zico não resistiu ao caldeirão do Bento Freitas, imagine o que sobraria do Bangu? Em Porto Alegre, o Xavante pressionou, mas perdeu por 1 a 0 em um lance ocasional, de escanteio. No Maracanã, os cariocas confirmaram a vaga na final de 1985.

Os deuses do futebol impuseram a justiça de imediato, impingindo ao Bangu a dor de perder o título nos pênaltis, para o Coritiba de Ênio Andrade — aliás, um técnico extraordinário, campeão invicto com o Inter, em 1979 e, depois, do primeiro título nacional do Grêmio, em 1981. Mesmo assim, a panela que era a CBF naquele tempo nunca pensou nele na Seleção Brasileira. Olhando os times do interior gaúcho, no Gauchão ou na Copa do Brasil, pergunto qual a chance de algum deles ir longe como aquele Xavante? Sim, você tem toda a razão: nenhuma.

O declínio dos clubes brasileiros longe das capitais é vertiginoso desde muito. O Santos é a exceção para confirmar a regra, mas sua proximidade com a selva de pedra de São Paulo lhe tira a chancela de "interior" — inclusive por ser um balneário. Não foi sempre assim.

Em 1976, mesmo ano em que o Caxias aplicava 2 a 0 no Inter de Falcão pela Série A, um certo meia magro e elegante tornava-se artilheiro do Paulistão com 15 gols, sete deles marcados em um jogo contra a Portuguesa Santista. Veio 1977. O Botafogo de Ribeirão Preto foi campeão da Taça Cidade de São Paulo, liderado por ele, Doutor Sócrates, caso raríssimo de atleta com formação em medicina.

No primeiro turno, venceu o Santos na Vila Belmiro por 3 a 2, com direito a dois de Sócrates, um deles de calcanhar, sua marca registrada. Na semifinal, passou pelo Guarani. Na final do turno, empatou sem gols com o São Paulo, no Morumbi, e ergueu a taça. O Botafogo só não fez a final de 1977, vencida pelo Corinthians sobre a Ponte Preta — olha o interior, de novo —, por formulismo. Os campeões de dois turnos classificavam para um terceiro, este sim definidor dos finalistas.

O Joinville do meia Nardella foi hexa em Santa Catarina de 1976 a 1981. O Guarani, de Capitão, Careca e Bozó, campeão brasileiro de 1978 e vice em 1986. A Ferroviária, em 1983, aplicou 3 a 1 no Grêmio em pleno Olímpico. A eliminação da Copa de Ouro fez o Grêmio desistir do goleiro Remi e ir atrás de Mazzaropi. Sem a equipe de Araraquara, portanto, talvez o Grêmio não fosse campeão do mundo. Houve a Inter de Limeira, campeã paulista de 1986, com Bolívar pai amedrontando atacantes na zaga e Kita, ex-Inter, de artilheiro. E o Bragantino, vice brasileiro em 1991.

Aos poucos, o futebol interiorano passou a viver de projetos específicos de empresas, com muito dinheiro de uma só vez. O Juventude Parmalat, na década de 1990. O São Caetano/Cônsul, vice da Libertadores na virada do milênio. Agora, de novo o Bragantino/Red Bull, projeto contabilizado em euros. Qual o motivo para esta derrocada? Um único e definitivo, que é a massificação das grandes rivalidades. Há décadas ela vem sufocando os clubes de cidades médias e pequenas. Pior, roubando-lhes torcedores, sócios, receitas, relevância, patrocinadores. O próprio Santos, mesmo formando supercraques com regularidade, de Pelé a Neymar, sofre para lotar a Vila Belmiro.

Você vê saída? Para brilhar lá no alto, infelizmente, não mais. Para sobreviver, talvez, lutando para entrar no calendário nacional. Do contrário, é fechar as portas. Triste, pelo tamanho e diversidade do Brasil.

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