Ação Social


Como o Japão tem conseguido conter avanço do coronavírus sem quarentena em massa

O Japão poderia ser um dos países mais afetados pelo novo coronavírus.
27/03/2020 Microsoft News

Foi um dos primeiros a confirmar pessoas infectadas, poucos dias depois de a China emitir um alerta sobre a doença.

Além disso, segundo o Banco Mundial, sua população acima de 65 anos é a maior do mundo (28% do total), superando a Itália, que se mostrou especialmente vulnerável nesta pandemia.

O Japão também tem um elevado consumo de tabaco, o que ajuda pouco na hora de combater doenças respiratórias, e enorme densidade populacional, com quase 127 milhões de habitantes em um território quase do tamanho do Mato Grosso do Sul, Estado onde vivem 2,6 milhões de brasileiros.

Mas, até agora, o país registrou 1.307 infectados e 45 mortos pela covid-19 e não adotou quarentenas em cidades ou isolamento obrigatório de seus cidadãos para evitar a propagação do vírus.

Para além do cancelamento de eventos esportivos, como a Olimpíada de 2020, e de escolas fechadas, os japoneses têm seguido suas vidas de maneira mais ou menos normal.

Isso ficou ainda mais evidente em 22 de março, quando milhares de cidadãos foram às ruas e a parques para admirar as cerejeiras em flor.

Como disse a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, abandonar esse festival de primavera para os japoneses seria como "abandonar os abraços para os italianos".

Havia tanta gente nas ruas que a própria governadora pediu que os moradores da capital do Japão não saíssem de suas casas a não ser por razões estritamente essenciais.

Apesar do relativo sucesso na contenção da epidemia, há um grande temor no país de que o vírus esteja se espalhando silenciosamente no país, com uma aceleração do número de pessoas doentes. E que isso leve a medidas mais duras, como quarentenas obrigatórias.

Mas até agora a estratégia japonesa tem funcionado e intrigado pesquisadores.

Isolar grupos de contágio

De acordo com o número de infectados e mortos pelo coronavírus, o Japão é um dos países mais desenvolvidos que menos foram afetados.

Mas por quê?

Segundo Kenji Shibuya, diretor do Instituto de Saúde da População do King's College, em Londres, o Japão é muito eficiente em testar pessoas em busca do vírus, identificar grupos de contágio e isolá-los.

"A única maneira de lidar com qualquer pandemia é testar e isolar. E muitos países não ouviram. No Japão, eles estão desesperados para rastrear os infectados. E estão indo bem em termos de identificar e isolar os grupos doentes", disse à BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol).

Mas ainda assim, segundo o pesquisador, o país não tem realizado a quantidade de testes que deveria. E isso pode levar a um aumento drástico no número de pessoas infectadas.

"Os testes no Japão estão muito atrás de outros países. E minha preocupação é que exista um grupo de pessoas infectadas, sem sintomas, que não foram detectadas, além de casos importados de outros países."

"Se isso estiver acontecendo", advertiu, "temo que possa haver uma explosão no surto".

Distanciamento social

Outro argumento que pode explicar o sucesso do Japão é o distanciamento social que, mesmo antes do surto de coronavírus, já estava bem estabelecido na cultura.

"Os japoneses são bastante conscientes da higiene, muito mais do que em outros lugares. Além disso, muitas pessoas usam máscaras nas ruas por questão cultural, então há menos chances de transmissão", explica Benjamin Cowling, professor de epidemiologia da Universidade de Hong Kong.

Shibuya também aponta para a "propensão japonesa à higiene" e a aspectos culturais como "evitar abraços" como fatores que contribuíram para a menor propagação do coronavírus.

Mas ele lembra que esses fatores parecem ter tido pouco impacto em outros países.

"No Reino Unido, as pessoas também começaram a se distanciar, a trabalhar em casa e a usar máscara. E os casos ainda estão aumentando", afirma.

De todo modo, existe um consenso no Japão de que a decisão antecipada do governo de fechar escolas e suspender grandes eventos público, além de insistir na necessidade de respeitar as novas normas sociais desde o início, ajudou a controlar a disseminação.

Mas isso pode mudar. O governo liderado pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe, anunciou que reabrirá as escolas em abril.

E, a julgar pelo que foi visto no último final de semana, com os japoneses reunidos para admirar as flores de cerejeira, as pessoas já começaram a levar menos a sério as medidas de distanciamento social.

Isso preocupa os especialistas.

"Acho que não é uma boa ideia enviar um sinal de que estamos indo bem e reabrir escolas em todo o país ou retomar eventos. Essa é uma mensagem errada. Precisamos ter muito cuidado, caso contrário, podemos ter situações semelhantes ao que acontece nos Estados Unidos ou em países europeus", diz Shibuya, do King's College.

Reduzir a transmissão

Se você comparar a curva de contágio no Japão com a de outros países, como Itália, Espanha e EUA, conseguirá perceber como os japoneses foram bem sucedidos.

Ou seja, até agora, mesmo que ainda surjam casos novos todos os dias, esse montante não sofreu um aumento acentuado em nenhum momento.

Esse conceito de "achatar a curva", evitando que muitas pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo, é o que muitos países buscam. Para especialistas, essa estratégia é chave para "retardar e conter" a covid-19.

Manter a pandemia controlada tem evitado também que o sistema de saúde entre em colapso. Segundo dados do Banco Mundial, o Japão tem 13 leitos hospitalares para cada mil habitantes, mais do triplo da Itália. O Brasil tem 2 para cada mil habitantes.

Por isso, segundo especialistas, a estratégia do Japão sem quarentenas massivas deve ser vista com cautela por países menos desenvolvidos.

"Todos nós estamos tentando encontrar lugares e exemplos onde os números permanecem baixos sem tamanha paralisação da sociedade. Porque não podemos continuar com o bloqueio, mas ao mesmo tempo não podemos voltar à vida normal, que tínhamos seis meses atrás, porque é muito fácil para o coronavírus espalhar", afirmou Cowling, da Universidade de Hong Kong.

"Precisamos encontrar algo intermediário, e talvez a experiência japonesa seja mais sustentável", acrescentou.

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