Agricultura


Seca atinge em cheio o RS e produtores pedem ajuda do governo

Prejuízos afetam da produção de soja até a pecuária de leite. Estudos apontam aquecimento global como motivo.
30/03/2020 G1

Agricultores e produtores de leite do Rio Grande do Sul enfrentam uma grave seca, e mais de 200 municípios decretaram situação de emergência.

Falta água para as plantas, para os animais e até para as pessoas que moram nas cidades. Em março, a chuva no estado ficou em 28 milímetros – um quarto da média histórica.

Para amenizar a crise atual, o setor agropecuário do Rio Grande do Sul pediu ajuda ao governo federal. O ministério da agricultura afirma que está avaliando as reivindicações dos produtores.

Durante 10 dias, o Globo Rural percorreu 3 mil km e 6 municípios gaúchos castigados pela falta de chuva. No município Tupanciretã, o produtor rural Carlos e o filho produzem grãos e cria gado de corte em 1.430 hectares.

“O que eu posso dizer? As contas não são pagas, as coisas complicam. Você não sabe o que faz”, lamenta Carlos.

Há cerca de 10 km da fazenda de Carlos, na propriedade do agricultor Ricardo, a colheita dos 700 hectares de soja já começou. O resultado também é desanimador: a produção caiu de 70 sacos por hectare para 20.

Dados da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) do estado mostram que o Rio Grande do Sul tem 270 mil produtores, e, na safra passada, foram colhidos 19,4 milhões de toneladas do grão. Para este ano, a expectativa é de pouco mais de 9 milhões de toneladas, uma quebra de quase 60% da produção.

A dívida dos produtores rurais com custeio da lavoura, maquinário e arrendamento de terras já passa dos R$ 15 bilhões.

Em Garibaldi, capital nacional do espumante, a produção de uvas também foi afetada pela seca. Das 460 toneladas que costumava colher só conseguiu 250.

“Lá em outubro e novembro, choveu bastante, 21 dias consecutivos de chuva e acabou atrapalhando a floração do cacho. Então foi diminuindo, diminuindo e agora vem com uma falta de chuva drástica e aí prejudicou a produção, não a qualidade, a qualidade melhorou”, explica o produtor Cristiano.

Na Serra Gaúcha, em Farroupilha, o pecuarista Itamar também teve prejuízo na produção de leite. Em 14 hectares, ele mantém 35 vacas em lactação e, antes da seca, tirava uma média de 1400 litros por dia. Agora, mal chega aos 900 litros.

Itamar resolveu irrigar a lavoura de uma forma improvisada. Despeja nela, a água que foi usada para lavar o barracão das vacas. Mas esse esforço não vai ser suficiente. “A única opção é vender alguns animais e comprar alimento”, diz.

Ele e mais 3.060 produtores da região fazem parte uma cooperativa, por enquanto a diminuição na produção de leite foi de 10%, mas a expectativa é que a queda seja pior nos próximos meses por causa da falta de alimento para os rebanhos.

Soledade, cidade com cerca de 30 mil habitantes, também enfrenta dificuldades por causa da falta de chuvas. O rio Espraiado, responsável pelo abastecimento urbano, está com o nível muito baixo.

“Nunca tínhamos visto uma situação tão grande de estiagem no município, nós temos falta de água no perímetro urbano, como também temos problemas sérios falta de água para o consumo humano no interior, como também para os animais, afirma o prefeito Paulo Ricardo.

Na zona rural de Soledade, a Defesa Civil socorreu as propriedades fornecendo água em bolsões de lona com capacidade para 4.500 litros, que são abastecidos a cada dois dias. É com essa água que o produtor rural Josir tenta manter o rebanho.

“Teve quatro já que já morreu já por causa disso daí (fome e sede). Essa aqui já vem sendo a quinta a sexta já que está nesse estado”, conta.

A seca prolongada prejudicou a produção de milho para silagem que alimenta as vacas leiteiras. A expectativa era colher 600 toneladas de silagem de milho, mas, só conseguiram 120. Menos comida, menos leite. A produção caiu para 1.500 litros por dia, metade do que a família de Josir conseguia antes da seca.

“Não está fechando as conta, a gente tá pagando para trabalhar”, conta Elisandra, esposa de Josir.

A ciência explica

Muitos cientistas acreditam origem da estiagem pode estar nas mudanças climáticas. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Eduardo Assad estuda o clima há 25 anos. Para ele, a seca prolongada no Rio Grande do Sul está diretamente ligada ao aquecimento global.

“Por aumento de temperatura e aumento de emissão de gás efeito estufa, essa maior emissão de gás de efeito estufa provoca o aumento de temperatura e aí você provoca um desequilíbrio no sistema planetário”, afirma.

Ainda, segundo o pesquisador, a estiagem deste ano já havia sido apontada em estudos antigos.

“Em 2007 a gente soltou um primeiro trabalho que mostrou que a seca em 2020 no Sul poderiam chegar a R$ 5 bilhões (de prejuízo). Esse estudo foi repetido em 2012, 2014, 2016, 2012, e todos esses estudos apontavam para perdas grandes”, explica Assad.

O professor afirma ainda, que para enfrentar os problemas climáticos, é preciso investir em preservação, gestão e tecnologia.


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