Casos de feminicídio sobem 73% nos primeiros três meses de 2020 em relação ao ano anterior no RS
O número de feminicídios aumentou 73,3% no primeiro trimestre deste ano no Rio Grande do Sul. Segundos dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), nesta quarta-feira (8), o estado registrou 26 casos de morte motivadas por gênero de janeiro a março deste ano, contra 15 no mesmo período do ano passado. (veja tabela abaixo)
Depois de registrar cinco casos em fevereiro, o estado teve 11 mortes no terceiro mês do ano. Os crimes ocorreram em Alegrete, Amaral Ferrador, Cacique Doble, Campo Bom, Gravataí, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria, Santa Rosa e Torres.
A chefe da Polícia Civil do RS, Nadine Anflor, afirma que ainda é cedo para fazer uma análise de que o isolamento social, por conta da Covid-19, está interferindo nos números de março.
"Liberamos o registro de violência doméstica na delegacia online, exceto quando tem Medida Protetiva de Urgência, que é feito na delegacia. Pode estar acontecendo uma subnotificação, mas estamos vivendo um momento que nenhuma geração viveu. Estamos todos preocupados com a vida, em não se contaminar. Pode ter gerado um outro sentimento, de aproximação, mas é muito tênue dizer com 20 dias de confinamento, não tem como fazer essa análise."
Crimes contra a mulher
No dia 4 de março, uma mulher foi morta a facadas dentro de casa no bairro Nova Santa Marta, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. A vítima, de iniciais Q. M. R., de 30 anos, foi atingida com golpes no peito e nas costas.
O homem, que havia fugido após o crime, foi preso nove dias depois. De acordo com a delegada Elizabeth Shimomura, a vítima havia registrado ocorrência contra o companheiro em 2003. A última medida protetiva concedida à Q. M. R., havia expirado em agosto de 2018. O casal ainda estava junto.
No dia 11 de março, em Santa Rosa, no noroeste do estado, uma mulher de 29 anos foi morta a tiros. Segundo a polícia civil, o suspeito do crime é um policial civil, ex-companheiro da vítima, que se matou após o crime. Ele tinha 38 anos.
Três dias depois, em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, J. R., de 37 anos, foi morta pelo ex-companheiro, de 37 anos. Ele invadiu a cozinha do local que ela trabalhava, e matou ela a tiros. O homem, que tinha um revólver calibre 38, se matou após o crime, informou a polícia. Ela tinha uma medida protetiva contra o ex-companheiro.
Demais índices diminuíram
Em relação a fevereiro deste ano, os índices de ameaça, lesão corporal, estupro e tentativas de feminicídio caíram. As ameaças diminuíram de 3.388 para 2.689, as lesões 1.990 para 1783.
Os casos de estupro passaram de 152 em fevereiro para 123 em março. As tentativas de feminicídio foram 24 contra 28 no segundo mês do ano.
Segundo Nadine, a polícia aumentou as formas para as mulheres denunciarem.
"Nos surpreendemos positivamente que essas ocorrência não tenham aumentado. O crime, muitas vezes, acontece por sentimento de ciúmes. Hoje, estão em casa, juntos. Não tem o fator de sair e beber com amigos. É uma nova realidade. Pode ter algum sentimento."
De acordo com a delegada, para prevenir e combater é necessário que as pessoas denunciem e chamem a polícia caso identifiquem que mulheres próximas estejam sofrendo violência.
"A gente precisa aumentar a solidariedade. É isso que salva a vida. É o vizinho se importar com o que está acontecendo, a amiga ligar, os familiares. O contato não é pessoal, mas tem inúmeros meios de comunicação: telefone, videoconferência, whatsapp. São iniciativas. A polícia esta à disposição. Só está pedindo que evitem vir quando há um pedido para que fiquem em casa isolados."