Em Porto Alegre, Pão dos Pobres teme futuro das atividades devido à pandemia
A Fundação O Pão dos Pobres está preocupada com o futuro das atividades da instituição, em Porto Alegre. Com a pandemia de coronavírus, o local, que depende de empresas parceiras, teme que caiam as ofertas nos cursos profissionalizantes ofertados para jovens em situação de vulnerabilidade social.
Conforme o gerente da instituição, João Rocha, as aulas presenciais foram suspensas, como está previsto nos decretos estadual e municipal.
"Estamos fazendo atendimento home office para aqueles [alunos] que têm acesso à internet. Os que não têm, nós temos impresso o material e levado nas casas deles", diz João. "Levamos também cestas básicas. Estamos buscando, além de manter o vínculo com o estudo, com o curso profissionalizante, dar condições de alimentação a esses jovens", afirma.
Uma das preocupações é que os 150 alunos que se formam no próximo mês não consigam se inserir no mercado por conta da pandemia. Em situações normais, antes da pandemia, alguns alunos faziam as aulas práticas do curso em empresas parceiras, com carteira assinada e recebendo salário, e outros, no próprio Pão dos Pobres. Isso facilitada o ingresso no mercado de trabalho.
"A gente está prevendo perder essas parcerias com essas empresas. É algo que tem nos causado bastante ansiedade e angústia, porque, se esses jovens perderem essa oportunidade de se manter vinculados às empresas por meio dos cursos profissionalizantes, provavelmente eles não vão ter condições de continuar estudando. Sem falar na questão do salário mínimo que eles recebem para fazer o curso, que muitas vezes é o que dá conta da alimentação, do vestuário e do material de higiene", explica João.
Caso as empresas não renovem a parceria, as 150 vagas que seriam abertas para os cursos seriam reduzidas.
"Dependemos das empresas. Se não tivermos empresas parceiras, não conseguimos abrir vagas. Algumas já nos anunciaram que vão renovar, outras que não vão renovar, então estamos em uma expectativa. Entendemos toda a situação das empresas na questão do impacto econômico, mas a gente pensa que investir em educação é um ganho e um retorno econômico que vai para além da pandemia", destaca João.
"A pandemia vai passar, mas pode ser que esses jovens venham se vincular ao tráfico de drogas, crime organizado, porque eles vão buscar uma subsistência para suas vidas", complementa.
Além dos cursos, o Pão dos Pobres conta com seis casas de acolhimento institucional, onde vivem 120 crianças e adolescentes de até 18 anos. Para manter o atendimento, a instituição está recebendo doações de alimentos, roupas e itens de higiene.
Para doar mantimentos, basta entregar as doações na sede da instituição, na Rua da República, 801, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. A portaria funciona todos os dias da semana, 24 horas por dia.
Comida muda o mundo
Uma das formas de contribuir com o Pão dos Pobres é através do projeto Comida Muda o Mundo. Alunos do 5º semestre do curso de gastronomia da Unisinos estão promovendo um almoço solidário, no qual toda a renda arrecadada na venda das refeições será destinado ao Pão dos Pobres.
O cardápio é uma lasanha, com opção vegetariana, acompanhada de uma sobremesa, que, em princípio, será entregue no dia 1º de julho. Serão vendidos 150 almoços, que podem ser adquiridos junto à entidade por meio das redes sociais.
"Todo o dinheiro da comercialização é voltado para a instituição, que tem uma admiração especial dos alunos da gastronomia da Unisinos, justamente por também ensinar gastronomia para os alunos lá do Pão dos Pobres", explica o professor Gustavo Corrêa Pinto.
O professor destaca que o propósito da ação, que é retratado no nome do projeto, é mostrar que a comida tem uma importância além de apenas alimentar as pessoas.
"Tudo que foi pensado no projeto partiu dos alunos. A gente instiga eles a pensarem dessa forma social, de olharem para o que está acontecendo e darem esse foco bem forte de usar o alimento como algo que a gente possa estar ajudado", complementa a coordenadora do curso de gastronomia da Unisinos, Sarah Winck de Almeida.