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Por que alguns insetos se movem em ‘nuvens’ e qual o real impacto de um gafanhoto?

Especialistas explicam como são realizados fenômenos desse nível e a importância ecológica desses animais.
27/06/2020 G1

Olhar para o céu em 2020 tem sido um desafio. Depois do temor causado pela chegada de um grupo de “vespas assassinas” às Américas, o Brasil vive agora a iminência de uma nuvem de gafanhotos dominar monoculturas no Sul do país. A vantagem é que grandes aglomerados de insetos não são incomuns e muitos deles já são estudados por pesquisadores.

Borboletas e libélulas, por exemplo, usam o hábito gregário na busca por alimentos e para perpetuar a espécie. Guiados pela luz, pela lua ou até pelas movimentações de massas de ar, como é o caso dos gafanhotos, os bichos se mantêm unidos e alinhados em relação ao destino pretendido. “A movimentação dos gafanhotos é bem característica, principalmente por ser um fenômeno muito visível”, explica a pesquisadora taxonomista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Dra. Kátia Matiotti, especialista nesses animais.

Mas qual é a vantagem de um inseto se aglomerar dessa forma? A resposta pode começar a ser compreendida por um ditado: a união faz a força. Se um inseto isolado poderia ser uma presa frágil para predadores, um conjunto tem potencial de ser preservado e não predado. Tais aglomerados espantam não só em voo, imagens impressionantes mostram até centenas de larvas e minhocas fazendo uso da estratégia.

Outros fatores, além do instinto protetivo, ajudam a manifestar essa “vontade” de aglomeração. O professor Ângelo Parise Pinto do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pesquisa insetos aquáticos, mas começou a se aprofundar no fenômeno da migração devido às libélulas terem esse hábito e explica: “o movimento migratório se desencadeia através de respostas às condições ambientais. Elas geram um gatilho e instigam os insetos a realizarem determinados comportamentos”.

Os gafanhotos responsáveis pelas temidas nuvens que ameaçam o Sul do Brasil são considerados insetos solitários e sedentários por grande parte da vida. A situação muda quando variações como a falta de alimentos fazem que com se aglomerem, competindo pelos recursos. O fato de estarem juntos libera substâncias no sistema nervoso que os torna mais sociáveis e dispostos à convivência.

“Esse comportamento se inicia ainda quando não têm asas e, por isso, se deslocam marchando no chão, como um exército. Quando fazem a muda para fase alada, acabam se lançando nesse comportamento migratório em direção às áreas onde terão umidade do solo e disponibilidade de recursos vegetais”, explica o especialista em insetos Ângelo Parise Pinto.

No mundo todo, há mais de 7 mil de espécies de gafanhotos, aproximadamente 4 mil vivem no Brasil. Do total, cerca de 20 realizam o comportamento migratório

Começar a “gostar” de viver em grupos e ser capaz de voar não são as únicas mudanças que ocorrem nesses seres. O gatilho mencionado pelo professor faz com que as pernas mudem de tamanho, o inseto adquira novas cores e até garante condições de se alimentar de plantas que são tóxicas para outros animais. Mas essa manifestação de comportamento pode não ser sempre natural, como explica Matiotti: “o desequilíbrio ambiental tem provocado isso, tanto pelo clima quanto pelo uso de agrotóxicos e o extermínio dos inimigos naturais deles”.

As mudanças provocadas pelo homem deixam evidentes uma máxima: gafanhotos são uma máquina de se alimentar e se reproduzir. “Uma única fêmea coloca de 80 a 120 ovos escondidos na terra”, exemplifica a Dra. Kátia Matiotti. “São bastante vorazes e acabam até se alimentando dos mais jovens. Algumas espécies chegam a devorar quantidades maiores do que seu peso, por dia”, acrescenta o professor da UFPR.

Ataques de aglomerações de gafanhotos no continente africano, na década passada, deram um prejuízo de 122 milhões de dólares

Mas exterminar todos os gafanhotos não é a solução e está bem mais perto de se tornar um problema maior. Os insetos têm um poder destrutivo, mas também são determinantes para certos ambientes, além de serem inofensivos e não transmitirem doenças aos humanos.

Matiotti acrescenta: “são também desfolhadores naturais, auxiliam na reciclagem de nutrientes do solo e são indispensáveis ecologicamente por fazerem parte da dieta de aves, mamíferos e anfíbios. A presença ou ausência deles pode ainda informar se o ambiente está em degradação e tudo isso contribui para o equilíbrio”.

É importante dizer que a tendência é vermos insetos como vilões, porém os serviços que estes animais prestam à humanidade são muito superiores aos danos. Eles existem há mais de 400 milhões anos e possuem mais de um milhão de espécies. Então sempre digo: os insetos vivem sem a gente, mas nós não vivemos sem eles

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