Polícia


'Destruída', diz vítima de supostos abusos sexuais de terapeuta holístico em Canoas

Polícia prendeu o suspeito nesta segunda-feira (29). Segundo as investigações, o terapeuta promovia encontros em Porto Alegre, no interior do Rio Grande do Sul e também em Santa Catarina e Minas Gerais.
29/06/2020 G1

Encontrar um fator de vulnerabilidade e trabalhar com ele. Foi assim que cinco mulheres relataram que agia o terapeuta holístico Rogério Pizzato, preso nesta segunda-feira (29) em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por suspeita de praticar abusos sexuais em pacientes.

O advogado Hamilton Rodrigues de Oliveira disse que vai provar a inocência do cliente e que só vai se manifestar nos autos do processo.

Na internet, Pizzato oferece um tipo de terapia que ele diz ser capaz de proporcionar prosperidade e “alavancar” a vida “financeira, amorosa, de saúde, seja onde você precisar”. Mensagens como esta, gravadas em vídeo, costumavam atrair dezenas de pessoas interessadas nas técnicas do terapeuta.

Porém, a terapia também incluía encontros individuais, e os abusos, segundo as mulheres que procuraram a polícia, aconteciam nesses encontros. Elas relatam como a experiência impactou emocionalmente.

"Destruída. Invadida. Perdi muitas coisas na minha vida. Estou tomando antidepressivo, estabilizador de humor. Eu não tenho uma noite tranquila de sono, eu acordo algumas vezes, tenho crises de ansiedade”, diz uma das vítimas.

Segundo a polícia, ele promovia encontros em Porto Alegre, Canoas, no interior do Rio Grande do Sul e também em cidades de Santa Catarina e Minas Gerais. A maioria com mulheres. Uma das que denunciou o homem contou para a reportagem da RBS TV que, a partir dos encontros, começou a fazer cursos com ele.

"Ele promovia muito a questão do desenvolvimento, do autoconhecimento, aliado à questão de espiritualidade. Basicamente, a questão de se autoconhecer, e eu estava nessa busca do autoconhecimento. Ele encontra a tua fraqueza e trabalha com ela. Ele vai te manipular com a tua fraqueza”, afirma.

Manipulação emocional

Outra mulher, que fez a denúncia, contou como foram as primeiras experiências sexuais. "Nos primeiros momentos ele passava as mãos nas minhas pernas, depois foi passar as mãos nos seios, depois foi pra tirar minha blusa. Depois, ele pedia pra eu passar a mão nele, imitar os gestos dele”, aponta. “E eu era muito resistente, desconfiada. Eu tava muito frágil emocionalmente. Ele tinha conquistado a minha confiança, mas, mesmo assim, eu tinha uma resistência. E aí ele dizia: 'Tu quer te curar ou não?’, recorda”.

"Começou a fazer todo um reconhecimento aonde que eu tinha que fazer a masturbação nele, que é onde me levaria a um estado espiritual, de uma expansão de consciência”, relata outra denunciante.

As vítimas contam que tentavam se afastar do terapeuta. "Quando eu me afastava ele sempre trazia alguma mensagem ou me ligava, e eu não sei o que ele acessava em mim, mas eu terminava a ligação e entrava em prantos. Aquilo me remetia que eu tinha que voltar lá, porque só ele poderia me curar ou me auxiliar. E ele era muito rígido nisso, que só 'eu' tenho o amor, só 'eu' posso ensinar, só 'eu' posso mostrar o caminho”, descreve.

Uma das mulheres que denunciou o abuso era casada. O relacionamento não suportou a crise provocada pelas revelações.

“Hoje, nós estamos num processo de divórcio. Nossa vida financeira despencou. Foi um processo que nos custou muita coisa”, revela.

Outra mulher conta que não se sentia à vontade com o tratamento e tentou se afastar. Mas o terapeuta, segundo a ex-cliente dele, voltava a se aproximar.

"Toda vez que eu mostrava alguma resistência, ele entrava com esse discurso de que ele só poderia me ajudar se eu me ajudasse, se eu aceitasse, e que eu tinha que confiar nele. E vinha com o discurso, de novo, de que o propósito dele era auxiliar muito os seres humanos.”

Quando a cura prometida não veio, e elas entenderam o que acontecia, resolveram procurar a polícia. "Quando eu consegui aceitar que eu estava sendo abusada sexualmente. Que eu estava sendo manipulada”, afirma uma das mulheres.

"Ele manipulava a ponto de acreditarmos que ele era um mestre, que ele sabia das coisas. E na terapia, ele me anula. Ele dizia que a minha vida estava um caos por minha culpa, porque eu escolhia errado”, afirma uma das mulheres.

Com base no depoimento de cinco vítimas, a Delegacia da Mulher de Canoas pediu a prisão preventiva de Rogério Pizatto. A juíza concordou e entendeu que as práticas do terapeuta apresentam indícios do crime.

“Nos traz fatos que coadunam ao crime de violação sexual mediante fraude. É quando a vítima consente com o ato sexual, mas a razão que faz ela consentir com o ato sexual é um engano, é uma fraude, é um engodo. Ela consente, mas por um motivo diverso daquele que ela entende por que está fazendo”, explica a delegada Clarissa Demartini.

"Não foi só o depoimento. Foram fotos, vídeos, que fortaleceram o que aconteceu e aquele contexto”, sublinha o delegado regional Mário Souza.

Fraude

Nesta segunda (29), a polícia cumpriu o mandado de prisão contra Rogério Pizatto em Canoas. Também foram apreendidos apreendidos computadores, documentos e cheques. A polícia vai analisar milhares de imagens que estão no computador dele.

Na delegacia, o terapeuta prestou depoimento por quase uma hora e, segundo a delegada, admitiu a prática sexual durante a terapia. No entanto, defendeu o que chama de uma técnica de tratamento.

“Ele confirma a aplicação dessas técnicas e sustenta elas como uma terapia possível de ser aplicada. A afirmação de que ele teve contato sexual com as vítimas reforça nossa tese”, garante a delegada.

O advogado afirmou que não vai se manifestar sobre a fala dela.

Já o coordenador de políticas municipais de práticas integrativas de Canoas, Juliano Rodrigues, avaliou a terapia supostamente oferecida por Rogério Pizzato.

“Dentro das práticas integrativas, isso não é uma coisa que se aceite. Eu acho que é uma fraude”, sustenta.

A policia informou que, nesta semana vai ouvir denúncias de outras mulheres.

“A mulher que é vítima sente muito essa culpa, vergonha e medo. É dessa forma que eu me sinto. Eu fui um fantoche. Ele é um risco para todas as pessoas, tanto para homens quanto mulheres. Eu acredito que, se há justiça, o que ele faz hoje não pode mais fazer, atuar no que ele atua”, reivindica uma das vítimas.


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