'Acredite que é uma doença terrível', diz curada da Covid-19 que ficou 53 dias no hospital no RS
A aposentada Maria Jocelei Jacques, de 75 anos é uma das mais de 35 mil pessoas curadas da Covid-19 no Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde. Depois de 53 dias internada em um hospital, sendo 30 deles na UTI, "Dona Jô", como é conhecida, conta que ainda enfrenta uma longa recuperação em casa.
"Curada eu estou da doença, mas não estou totalmente recuperada. A lição é essa, que o pessoal acredite que é uma doença terrível", diz.
Dona Jô relata que quando saiu do hospital, há 57 dias, não tinha os movimentos das pernas, e desde então precisa fazer fisioterapia. "Estou bem dentro do possível. Fazendo fisioterapia e já estou caminhando dentro de casa. Espero que eu volte a andar sim, porque está bem difícil".
Para ela, é ainda mais importante a recuperação completa dos movimentos, já que foi eleita no início de 2020 a rainha de carnaval do bloco "União faz a força" do clube da Associação dos Sub Tenentes e Sargentos da Brigada Militar de Porto Alegre.
"Até eu colocar aquele salto 21cm, vai demorar um bocado. Sempre fui saudável, imagina rainha do carnaval, vice-presidente do clube. Minha vida é muito movimento, por isso sinto depender dos outros".
Para a filha Viviane Mansolim Jacques, não foi fácil ver a mãe doente. Além dos dias na UTI, Dona Jô precisou ser intubada e ficou em coma induzido. "Ficamos 30 dias sem poder ver, é bem complicado. Não víamos a hora dela sair de tudo isso e ir pro leito pra gente poder cuidar e trazer ela pra casa", conta.
"Várias vezes eu pensei, a gente achou que ela não ia voltar. Pra nós foi uma vitória ter ela de volta".
Dona Jô ainda se preocupa que muitas pessoas não levam a doença a sério. "Quando saio para ir na fisioterapia, que é o único lugar que vou, vejo pessoas sem máscara, bares lotados. Não é só ir ali, estar na UTI. Depois que a gente sai da sedação e vai pra casa, ainda tem uma recuperação", diz.
"Não é fácil mesmo, é bem difícil. Ela saiu sem a doença, mas a recuperação é muito lenta", destaca Viviane.
Início dos sintomas
A aposentada acredita que tenha contraído a doença durante uma viagem de navio para Salvador, na Bahia, no início do mês de março. "Quando voltei fiquei os 14 dias em casa, e só fui sair quando baixei hospital no dia 25. Mas só pode ter sido da viagem", relata.
Ela diz que no início sentiu apenas um cansaço. "Mas não falava nada para as minhas filhas. Só abanava pra elas e dizia que estava em quarentena. Quando fui para o hospital já estava com febre de 37,8ºC".
"Com essa pandemia alguma coisa a gente sempre aprende. Pra mim ficou isso: cuide-se, cuide-se, cuide-se".
Dona Jô não gosta de como as pessoas falam sobre curados. "Às vezes eu me revolto um pouco porque falam que a gente está curada, mas curada só da doença. Quando eu saí [do hospital] usava até fralda. Agora graças a Deus tenho vida sozinha. Mas é uma coisa muito lenta, sei lá quanto tempo vai levar né", finaliza.