Educação


Instituições de ensino do RS são alvos de ataques racistas durante atividades online

Na UFSM, grupo ingressou em palestra promovida por disciplina do curso de nutrição e fez comentários e ameaças. Já em Porto Alegre, uma aula do IFRS, Campus Restinga, também sofreu ciberataques.
10/07/2020 G1

Duas instituições federais sofreram ataques racistas durante atividades online na última semana. Isso aconteceu com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).

A aula promovida pela UFSM de Palmeira das Missões, na Região Norte do estado, ocorreu na segunda-feira (6). Segundo a professora que organizou o evento, Vanessa Kirsten, cerca de 40 minutos após o início da atividade, um grupo pediu para ingressar na reunião e começou a fazer diversos comentários de deboche e posteriormente ameaças aos participantes.

Foi registrada ocorrência na Polícia Federal em Santo Ângelo. Segundo a PF, será instaurado um inquérito para apurar os fatos narrados.

"Começou a haver uma solicitação muito rápida de várias pessoas e eu acabei aceitando. E eles começaram, então, pelo chat a fazer deboches 'como assim, não entendi', 'então quer dizer que racismo é isso'. Naquele momento a gente verificou que eles tinham intenção de atrapalhar a aula". explica Vanessa.

A aula disponibilizada pelo curso de nutrição abordaria o tema "Saúde e nutrição da população negra", e tinha como convidada a professora Fernanda Bairros, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vanessa afirma que a ideia era debater a saúde da população negra, um tema pouco inserido dos cursos de nutrição, e, pela relevância do assunto, o link da aula foi bastante divulgado.

"Não posso dizer que foi uma invasão porque o link era aberto e eu permiti a entrada dessas pessoas. Mas no momento em que percebemos que eles queriam atrapalhar o debate, eu solicitei aos participantes que saíssem da aula pois iríamos encerrar”, contou a professora.

Estavam presentes na aula cerca de 40 pessoas, entre professores, alunos de graduação e pós-graduação de diversas universidades.

"Eles abriram os microfones e começaram a fazer insultos, ameaças. Queriam nos dar uma sensação de medo, diziam que invadiriam nosso IP, que se fizéssemos uma nova aula eles iriam derrubar de novo, que iriam pegar nossos números de cartão de crédito. Quando eles viram que todas as pessoas saíram da sala, eles celebraram e disseram ‘Conseguimos. Qual vai ser a próxima?’” diz a professora.

O reitor da universidade, Paulo Burmann, emitiu uma nota repudiando o fato. Além disso, solicitou que a comunidade acadêmica redobre os cuidados com a segurança e as práticas nos usos de mídias digitais. Veja a nota completa abaixo.

Instituto Federal Campus Restinga

Na quarta (9), uma webconferência do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul também sofreu um ciberataque. Segundo a instituição, um grupo ingressou no painel “Roda de Conversa: como funciona o racismo, um olhar de moradores da Restinga”, e reproduziu sons de macaco. Conforme a instituição, também foi compartilhada uma tela com imagens pornográficas.

O IF informou que o diretor-geral do Campus Restinga, Rudinei Müller, fará a denúncia nesta sexta (10), na Polícia Federal. E que nesta quinta foram recolhidas informações e relatos.

O link de acesso da atividade foi divulgado nas redes sociais do IF - Campus Restinga e do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (Neabi), e havia uma moderadora que expulsou as pessoas assim que percebeu os ataques.

"Essas pessoas tinham notoriamente o intuito de cercear o debate acadêmico que ocorria com mais de 60 participantes", disse o IF.

Em nota, o reitor do IFRS Júlio Xandro Heck, repudiou o ato e destacou o "compromisso institucional com a promoção de um ambiente educacional plural, diverso, democrático e inclusivo que, em hipótese alguma, pode ser confundido com a expressão de discursos de ódio". Veja a nota completa abaixo.

O Neabi e a direção geral do Campus Restinga também através de nota repudiaram os ataques.

"Este tipo de ação não é, e não será, tolerada e estão sendo dados os encaminhamentos legais para averiguação e punição aos envolvidos pelas autoridades." Veja nota abaixo.

Nota da UFSM sobre incidente em aula aberta

A universidade se configura como um espaço de diversidade e de construção do conhecimento para a formação de profissionais críticos e reflexivos. O meio acadêmico trilha essa perspectiva, através do diálogo, da tolerância e da ciência, em seus diferentes espaços de debates. Nestes tempos de distanciamento social, devido à pandemia da Covid-19, essas relações foram condicionadas ao uso das tecnologias digitais, para manter a conexão e a comunicação entre alunos e professores, facilitando a continuidade de disciplinas teóricas.

Com muito pesar, nesta semana, em uma aula (com uma palestrante externa e aberta ao público) promovida pela disciplina de Vigilância e Segurança Alimentar e Nutricional do Curso de Nutrição da UFSM – Campus Palmeira das Missões, fomos tomados de surpresa com o ingresso de um grupo organizado de pessoas ostentando linguagem agressiva, de deboche racista, de cunho sexual e de ameaças. Essas pessoas tinham notoriamente o intuito de acabar com o debate científico que acontecia, com mais de 50 participantes. A referida aula versava sobre a relação da diversidade étnico-racial nos determinantes sociais e de saúde da população e foi interrompida, em virtude de tamanho desrespeito em formato de agressão coletiva.

Manifestamos total repúdio a esse tipo de atitude e nossa respeitosa solidariedade a todos e todas que vivenciaram a injustificável situação.

E solicitamos a toda comunidade acadêmica que redobre os cuidados com a segurança em suas práticas e procedimentos com o uso de mídias digitais, com o propósito de evitar o surgimento ou a reincidência de atitudes discriminatórias. Informamos que todas as medidas cíveis e criminais estão sendo tomadas para coibir e responsabilizar os autores dessa deplorável ação, garantindo o acolhimento e o acompanhamento das vítimas.

Na tarde do dia 8 de julho, em atividade pedagógica por webconferência realizada pelo IFRS – Campus Restinga, denominada “Roda de Conversa: como funciona o racismo, um olhar de moradores da Restinga”, houve a interferência de um grupo organizado de pessoas manifestando linguagem ofensiva, de cunho racista e sexual. Essas pessoas tinham notoriamente o intuito de cercear o debate acadêmico que ocorria com mais de 60 participantes.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), por meio desta Nota Oficial, manifesta total repúdio a essa prática desrespeitosa e criminosa, e presta sua solidariedade aos organizadores e participantes do evento por esta injustificável ocorrência.

Nota de Repúdio aos ciberataques ocorridos em atividade sobre temática étnico-racial no Campus Restinga do IFRS

Aproveitamos para reafirmar o compromisso institucional com a promoção de um ambiente educacional plural, diverso, democrático e inclusivo que, em hipótese alguma, pode ser confundido com a expressão de discursos de ódio. Os debates sobre a temática étnico-racial são imprescindíveis para a construção de uma sociedade mais justa e equânime, fazem parte dos princípios fundantes do Projeto Pedagógico Institucional e estão em perfeito alinhamento com a missão e valores do IFRS. Ataques como esse só demonstram a importância de aprofundarmos ainda mais as reflexões sobre o combate ao racismo e fortalecermos os trabalhos desenvolvidos por nossos Neabi, NAAf e Assessoria de Relações Étnico-raciais do IFRS.

Informamos, por fim, que todas as medidas legais estão sendo tomadas para coibir e responsabilizar os autores dessa deplorável ação, nas esferas cabíveis.

Neabi e direção geral do Campus Restinga manifestam repúdio a atos racistas ocorridos em roda de conversa virtual

O Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – Neabi em conjunto com a Direção-geral do Campus Restinga vem a público manifestar seu profundo repúdio quanto aos atos racistas e fascistas ocorridos durante a realização da roda de conversa virtual “Como funciona o racismo: um olhar de moradores da Restinga”, no dia 08/07, às 17h. Um grupo de “pessoas” achou-se no direito de interditar o debate ao praticar ações criminosas, mas sem sucesso. Este tipo de ação não é, e não será, tolerada e estão sendo dados os encaminhamentos legais para averiguação e punição aos envolvidos pelas autoridades. Atos como estes não podem ser normalizados, e trazem como consequência o incremento na violência contra as populações negras, que sofrem com a necropolítica praticada por falsas lideranças do país e se traduzem na tentativa de apagamento destes corpos. Vidas negras importam! Vamos seguir pautando com ainda mais força e mais seguros/as do caminho a percorrer na pauta antirracista. Agradecemos os apoios recebidos, que nos fortalecem e nos dão segurança, colocando-nos em terreno seguro para denunciar práticas como essas, que revelam o lado mais violento e triste do nosso país.

Nosso maior agradecimento também à comunidade da Restinga e às parceiras e parceiros do NEABI, sempre dispostos ao diálogo producente, firme e sábio.

O racismo existe e insiste! Mas estamos aqui para juntar as nossas forças e combater práticas perversas como a que tivemos no dia de ontem.

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